Reparadores reconhecem que, diante de alguns problemas mecânicos, uma boa conversa com o cliente muitas vezes representa 50% da identificação do diagnóstico. Esse, sem dúvida, é o caso da embreagem, em que hábitos de condução e utilização do veículo podem determinar problemas e desgaste prematuro.
Com base nessa realidade, na edição deste mês, preparamos para você uma matéria que irá auxiliar o reparador na hora de abordar e formular perguntas para ajudar no diagnóstico de possíveis problemas no sistema de embreagem. Leia com atenção e veja como realizar essa tarefa em sua oficina.
Antes da desmontgem:
o diálogo que define a manutenção
Depois do pneu, a embreagem é o item com maior desgaste em um veículo, (tirando os componentes de suspensão, pois, na maioria dos casos, são danificados pelas vias públicas, não por fadiga natural), e quando um veículo chega à oficina com esse tipo de problema, devemos analisar os fatores que podem causar esses defeitos.
É preciso formular algumas perguntas para o proprietário do veículo, tais como:
1. quais são os problemas que a embreagem apresenta?
Essa resposta servirá para identificar trepidação, patinação, dificuldade de engate, dureza na operação do pedal, barulhos no sistema, entre outros.
2. o veículo passou por algum serviço no sistema de embreagem? Se sim, qual? Há quanto tempo? Em qual quilometragem?
Nesse caso, será possível identificar um provável problema de mão-de-obra.
3. qual é a quilometragem apresentada no hodômetro?
Como essa informação pode ser adulterada, ela serve apenas como referência.
Quilometragem muito alta pode indicar desgaste natural da peça, facilmente resolvido com sua substituição. Entretanto, quando o veículo se encontra abaixo dos 40.000 km, os problemas podem ser desde uma montagem errada da embreagem anterior até partes do veículo que, a princípio, não apresentam relação com o sistema de embreagem.
4. em que situação o veículo é mais utilizado?
Se em trajeto urbano, os danos na embreagem podem ser maiores. Se o veículo é utilizado apenas aos fins de semana, pode indicar que o motorista possui pouca prática ao volante. Táxis, devido ao trabalho diário, sofrem um desgaste acentuado em seu sistema de embreagem.
5. quem é o principal motorista do veículo?
Sabemos que motoristas mais jovens tendem a ser mais afobados no uso do automóvel, acelerando o desgaste da embreagem. Sapatos de saltos altos podem ajudar na dificuldade no controle do pedal de embreagem. Idosos, em geral, possuem menos reflexo, por isso podem danificar a embreagem mais rapidamente.
Fatores extras:
Há ainda outros fatores que podem influenciar na vida útil de uma embreagem como:
1 - o trajeto que o veículo percorre, pois muitas subidas ou saídas de edifícios podem forçar todo o conjunto
2 - pesos desnecessários no porta-malas como: mangueiras, galões de água, ferramentas, sacolas com roupas enfim, o que não for necessário carregar deve ser deixado em casa, pois ajuda na deterioração do sistema.
Dica
Uma dica importante é posicionar-se no banco do passageiro e observar o condutor dirigir, pode ser o mesmo percurso utilizado para o teste dos veículos que saem da oficina.
Esses procedimentos servem para observar vícios ao volante como: descansar o pé esquerdo sobre o pedal de embreagem, rodar em sobremarcha &ndash utilizar uma marcha muito alta para a rotação que o motor do veículo esteja trabalhando &ndash, esticar a rotação antes de trocar a marcha, segurar o veículo em ladeiras apenas na embreagem e acelerador.
Com essas informações, podemos orientar o cliente sobre os pontos em que há problemas na condução do veículo, que causam danos e desgaste prematuro não apenas na embreagem, mas também em outros sistemas do carro.
Desmontagem
A desmontagem é uma parte importante na reparação, pois quando realizada de forma inadequada pode causar sérios danos que ocultarão os problemas reais do sistema.
Mesmo parecendo um procedimento de rotina, não deixaremos de relacionar alguns métodos que auxiliam em uma boa reparação. Veja abaixo:
1. desligue o cabo negativo da bateria
2. solte e retire o motor de arranque do veículo
3. solte as hastes de acionamento da transmissão
4. levante o veículo em um elevador, isso facilitará o trabalho
5. retire protetores de motor ou cárter, quando houver
6. apóie o motor e câmbio com cavaletes apropriados
7. solte e retire os semi-eixos do câmbio, em veículos com tração dianteira, ou o cardan para tração traseira
8. desconecte quaisquer chicotes ou cabos que sejam ligados ao câmbio, atualmente é comum que os sensores de velocidade sejam alojados no câmbio, bem como o sensor de marcha à ré
9. desligue as conexões do atuador hidráulico, cuidado para que o fluido não suje o chão da oficina. Ou desencaixe o cabo de acionamento de embreagem, deixando o garfo de acionamento livre
10. solte os parafusos que fixam a transmissão ao motor do veículo, sempre em cruz
11. retire o câmbio
12. solte os parafusos do platô, também em cruz, isso evita que a peça empene.
Esses itens são apenas uma noção de procedimentos que podem ser seguidos, porém, nem todos os reparadores concordam com esses passos. Entretanto, seguindo essa lista, a maioria das embreagens poderá ser retirada e ficará intacta para as análises futuras.
Após desmontar o sistema
Antes de limpar as peças, devemos analisar alguns itens como:
Existência de partes quebradas que podem denunciar trancos na transmissão, por sua vez, transmitidos para a embreagem
Ferrugem no eixo piloto e no cubo do disco de embreagem: essa é a maior causa de dificuldade no engate da 1ª e da marcha à ré
Impregnação do disco por óleo ou graxa: isso causa patinação e superaquecimento das peças em contato.
Com todas as peças limpas e disponíveis para análise, podemos detectar:
Azulamento de platô ou disco de embreagem demonstram superaquecimento das peças, ou seja, o sistema ficou pré-acionado, e isso pode ser causado pelo condutor
Sulcos na face do volante e do platô, sinal evidente de que houve contato entre essas peças e os arrebites do disco, indicando final de vida útil da embreagem
Fissuras na superfície do volante ou do platô são outro indício de aquecimento
Desgaste acentuado na mola membrana, alavanca de acionamento ou anel de debreagem, indicam problemas de engripamento ou desalinhamento no rolamento ou atuador hidráulico
Molas de retrocesso tortas, empenadas ou quebradas, causam perda de pressão, levando à patinação do sistema
Tubo guia de embreagem desgastado promove o acionamento deficiente do rolamento
Garfo de acionamento torto ou desgastado não permite que o platô seja desacionado totalmente, o que pode causar trancos em arrancadas ou trocas de marcha, assim como suas buchas em más condições podem causar problemas similares
Cabos de embreagem devem ser testados, sempre flexionados, quanto ao seu acionamento
Fique atento ao rolamento da ponta do virabrequim, este é responsável por manter o eixo piloto alinhado
O disco, que deve ser verificado quanto a empenamentos
Acionador ou rolamento que devem ser verificados quanto a vazamentos e engripamentos
Confira se todas as guias da transmissão estão nos lugares
Olhe o nível de óleo da transmissão, pois é um item importante para evitar que o câmbio trave.
Na próxima edição, falaremos a respeito da montagem, dos problemas e também sobre possíveis correções. E lembre-se: o diálogo entre o reparador e o dono do carro é essencial na hora da manutenção de um veículo.
Um volante bem retificado não deve ficar com aparência espelhada pois, nesse caso, provocaria patinações na embreagem
A entrada de água na caixa seca provoca a formação de ferrugem nas peças do sistema, prejudicando todo o seu funcionamento
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